https://www.maxfranco.com.br/storytelling/storytelling-e-o-pai/

Storytelling e o pai

09 de agosto, 2020 - por Max Franco

– … mas o dia dos pais é mais uma data comercial que blá-blá-blá…

É isso. Mais uma vez este é um argumento que alguns mais ortodoxos e com as cordas das santas sensibilidades mais aguçadas podem atirar sobre a mesa. Em contraponto, pode-se apresentar uma pergunta incômoda, mas, nem por isso, menos pertinente:

– Afinal, nas modernidades o que não é “comercial”?

De fato, talvez não encontremos tanta coisa assim.

Além do mais, quando foi que “comercial” virou sinônimo de “diabólico”? O que faríamos sem o comércio? Voltaríamos ao paleolítico e às práticas dos caçadores-coletores?

Nada impede que algo comercial seja relevante. A “santa ceia” de Leonardo foi um trabalho encomendado pelo Duque de Milão, Ludovico Sforza, para adornar a parede da Igreja de Santa Maria Delle Grazie. Da Vinci ganhou dinheiro pela obra. A Capela Sistina de Michelângelo não foi diferente. A verdade é que o pro bono e o voluntariado não geraram mais obras de arte quanto o bom trabalho bem pago.  Afirmar qualquer coisa diferente disso soa sempre meio hipócrita, afinal nós todos, geralmente, vendemos a nossa força de trabalho. Em outras palavras, comércio.

Aqui vemos algumas campanhas que foram realizadas com o mote dos dias dos pais de 2020. Um dia dos pais diferente da maioria dos outros. Afinal, muitos pais não serão visitados nesse período em virtude da pandemia do covid 19. Muitas famílias ainda estão praticando o distanciamento, principalmente, quando falamos dos grupos de risco, nos quais se inclui boa parte dos pais.

Esperava-se, portanto, que as peças de marketing desse ano viessem, realmente, recheadas de grande apelo emocional e, para isso, ainda não inventaram nada tão envolvente e poderoso quanto o bom e velho storytelling, que deitou e rolou nas campanhas de 2020.

A jornada do herói de Campbell é claramente um paradigma para todos ou quase todos os roteiros que se propõem a engajar por meio de histórias e os pais assumem o clássico papel de herói ou de mentor, o qual não deixa de ser herói. O mentor, afinal, é o herói do herói. O tom das narrativas, as cores pasteis, as trilhas sonoras… tudo traz essa abordagem sensível e emotiva.

Os pais de 2020 também são diferentes daqueles de outras épocas e a publicidade vai demonstrá-lo com clareza. Não são machos fortes, intransponíveis e inoxidáveis. Os pais de 2020 não são refratários às vulnerabilidades. Uma atitude das mais bem-vindas para a construção histórica do homem hodierno. O homem de 2020 chora, demonstra debilidades, hesita. Um verdadeiro libelo contra a masculinidade tóxica tanto em voga anos atrás.

Aqui trago três campanhas, uma mais antiga da Natura e mais duas atuais do Bradesco. Apesar de serem histórias completamente diferentes, o modelo utilizado é sempre o de contar histórias, seja pelo storydoing, seja pelo storytelling, mas a mensagem é bastante semelhante.

Comercial ou não, esperamos que essa mensagem ganhe vida, ganhe o mundo e, essa sim, viralize.