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Academicamente

03 de novembro, 2016 - por Max Franco

Quando o instrutor entrou na academia no começo daquela tarde, não foram apenas olhos femininos que o escoltaram. Roberto sabia que costumava causar aquela impressão aonde quer que fosse, mas já fazia muito tempo que não se importava mais tanto com isso. Divertia-o, porém nada mais. Não que fosse de vaidade inatingível, longe disso, mas o seu orgulho tinha outros endereços e, nenhum deles ficava objetivamente no seu corpo proporcional ou nos seus músculos à mostra. Roberto, antes de tudo, se orgulhava dos resultados do seu trabalho. No entanto, naquela manhã estava lidando com uma situação complicada com um determinado rapaz:
– Professor, vamos pegar leve hoje que ainda é terça-feira.
– E tem dia para pegar leve outro para pesado, Joaquim?
– Claro que tem. O dia certo para esforço se chama amanhã. E quando chegar amanhã, de novo.
– Você é engraçado, mas precisa mesmo se dedicar mais aos seus exercícios. Já faz dois meses que você começou a atividade e não houve evolução. Você não está pagando academia para ficar na mesma, não é?
– Quem paga é minha mãe, Roberto. Meus pais que me obrigam a vir. Ficam me chamando de preguiçoso a toda hora. Eles dizem que só quero dormir, comer e jogar.
– Você joga? Ótimo! O quê? Futebol? Vôlei?
– Playstation. Também pokemon.
– Não serve muito para a sua saúde.
– Eu sei que não. Porém, para você é fácil. Olha para o seu corpo. Seus braços são da envergadura da minha coxa. A sua coxa nem sei do que é…
– Não há bom resultado sem trabalho, Joca. Por sinal, vamos parar de papo e começar a trabalhar, vamos.
– Professor, eu não tenho vocação para isso. Não consigo conceber pagar para fazer força. Isso é trabalho forçado.
Não é pagar para fazer força, rapaz. É pagar para ter saúde.Você não tem ideia das transformações que já vi acontecer dentro dessas paredes. Gente que chegou aqui desmotivada, sem autoestima, sem coragem e, depois de muito trabalho, conseguiu alcançar os seus objetivos.
– Beleza é geralmente o objetivo.
– Você não poderia estar mais errado. Beleza pode ser um dos objetivos, e não há mal algum nisso. Mas há muitos outros objetivos. Eu diria que o maior deles tem mais a ver com aprendizado do que com estética…
– Aprendizado? A gente aprende o quê, a levantar ferro?!
– Não, a gente aprende que tudo tem preço, que há causas e consequências para tudo. Se você se alimenta mal vai ficar mal. Se a gente não se condiciona direito vai ter problemas com isso. Tudo é uma questão de se ter disciplina. Disciplina e hábito.
– Você é o quê, um monge?
– Não, sou seu instrutor. Um cara que 17 anos atrás entrou aqui com 1m73cm e 135 quilos, que passava a vida na cama, que evitava sair de casa e fazer amigos porque me sentia a criatura mais impopular do mundo. Um cara que colecionava frustrações e tantas doenças que você nem imagina. Eu sei o que estou falando e por isso estou lhe dizendo: não há prêmios sem luta, rapaz. E a luta é contínua, diária. Lutar dói, mas vai doer mais ainda a desistência.
– Você tinha 135 quilos?
– E uma cara que mais parecia um chokito de tanta espinha.
– E o que você tomou para ficar esse Brad Pitt?
– Coragem, garoto. Muita coragem. Vamos à luta?!
Este é o Professor Roberto, professor de Educação Física, instrutor de academia. Da sua academia. Um homem vaidoso por causa das suas conquistas.