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Onde habita o talento?

25 de novembro, 2016 - por Max Franco

Animais fantásticos e onde habitam

Muita gente sabe da história da J.K. Rowling e não preciso me deter detalhando-a neste texto. Sabemos, por exemplo, que ela estava com sérias dificuldades financeiras e sem muitas perspectivas. Foi aí, numa viagem de trem, que ela viu estudantes que faziam trânsito para escola onde estudavam que veio o insight: “E se eu escrevesse uma história sobre uma escola de bruxaria?!”.
Rowling escreveu o primeiro livro e o levou para diversas editoras, as quais, prontamente, o rejeitaram. Às vezes, fico especulando o que passa pela cabeça desses editores quando pensam na oportunidade que perderam. Algum já deve ter cogitado o suicídio.
O resto da história, muitos já sabem. Harry Potter se tornou um fenômeno mundial, talvez sideral, com uma gama de milhões de fãs e admiradores – todos – salivando por uma nova obra da autora. Rowling é o modelo da jornada do herói, alguém que conseguiu pela força do seu talento, da sua coragem e de muita persistência, alcançar o sucesso. Um sucesso financeiro, afinal é talvez a mulher mais rica da Inglaterra, e o sucesso pessoal, porque é reverenciada aonde quer que vá.
Rowling continuou produzindo e produzindo com qualidade, mas caminhando fora do mundo da magia. Em 2016, o mundo foi brindado com mais duas obras suas, essas, sim, na mesma tonalidade das produções que lhe trouxeram tanta veneração: A criança amaldiçoada e Animais fantásticos e onde habitam. O público, claro, beirou a histeria roendo as unhas para conferi-las.
Muito se discute o porquê de séries, filmes e livros ancorados em temáticas da fantasia conseguirem conquistar tanto público. A resposta é óbvia: a realidade na qual vivemos, realmente, pede que fujamos dela. O mundo real migra entre o tedioso e o cruel com uma constância cotidiana. É um belo local para não se estar. E é essa a grande competência destes engenheiros do mundo da ficção. Eles nos oferecem lugares mágicos com personagens empáticos e adoráveis. Há quem diga que ganham em demasia para isso. Talvez até seja verdade, mas o fato é que, sem fantasia, sem ilusão, a vida concreta seria insuportável. A verdade, portanto, é que eles prestam um serviço essencial para humanidade. Estes ficcionistas nos proporcionam uma possibilidade saudável e legítima de evasão, de fuga da realidade ingrata na qual estamos inseridos nos permitindo alguns bons momentos de sonho.
E é exatamente este o grande trunfo de Animais fantásticos. Não é um filme de enredo tão elaborado quanto os da franquia Harry Potter. Na verdade, a história é até bem simples. Mas, o universo, as imagens, a música, a estética, a riqueza dos personagens… tudo tem o mesmo DNA do bruxinho famoso. A soma de todos esses elementos provoca no público fiel a Harry Potter um verdadeiro alívio. Dava até para ouvir o suspiro no cinema. Todos, agora, sabem o que esperar. Não estão nem serão decepcionados. A ansiedade foi superada e todos viram que novamente J.K.Rowling acertou a mão. Ela, mais uma vez, mostrou quem é e que merece o sucesso que tem.
Eddie Redmayne é outro que craque que não perde a linha. O ganhador do Oscar e candidato a outro dá corpo a um protagonista ainda mais tímido e inseguro do que Harry Potter. Tudo no tom certo. Sem estrelismos. Sem exageros.
A partir de agora, é só aguardar os novos filmes, com a convicção de que vai valer a pena esperar tanto.
Vida longa e próspera, J.K! Continue nos encantando com seus encantamentos.

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