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Estranho? Nem tanto

04 de novembro, 2016 - por Max Franco

Dr.Strange é um homem preso ao seu tempo e ao seu mundo. Ele é a personificação do clichê médico-neurocirurgião. Afinal, como costuma se dizer: todo médico pensa que é Deus, o neurologista sabe que é. Strange é o endereço da arrogância, e pior é que tem certa razão para se ter tanta certeza. Afinal o médico, realmente, é dotado de um brilhantismo divino, infelizmente, mais para a sua glória, mais para polir o metal já tão lustrado do próprio ego, do que por quaisquer exercício de humanidade e legítima preocupação com os seus pacientes.
Imagina um sujeito dessa natureza, com todas as suas arquiteturas rígidas de pensamento e ideologias centradas unicamente em fundamentos lógicos e racionais, de uma hora para outra, se ver desafiado pelo mundo subjetivo e metafísico. Um mundo de mil possibilidades, algumas imponderáveis para o homem que ele era.
Este é o dilema inicial do nosso protagonista e , também, um dilema para todos nós, seres biológicos que sonhamos com a transcendência. Como acreditar em forças que você não consegue ver , medir, pesar, comparar e, portanto, racionalizar?
A mais nova produção da Marvel foi mais um gol de placa para o mundo do cinema. Ela acerta em vários ângulos (ainda falando do gol). A escolha do ator não poderia ter sido melhor. Benedict é um dos mais talentosos atores da atualidade e, praticamente, uma unanimidade. O seu exímio trabalho em Sherlock deixou uma imensa legião de fãs no mundo inteiro (com razão!) e lhe deu chancela para campeonatos ainda mais exigentes. A escolha do ator é também adequada, porque Cumberbatch, de tão festejado, é o neurocirurgião do mundo do cinema atualmente.
Os efeitos especiais do filme são um capítulo à parte. Algumas vozes já estão clamando “oscar, oscar”. Os efeitos 3D não só beiram à perfeição, mas nos transportam para uma viagem lisérgica quase vertiginosa. Um arraso! Dr Strange é filme para você acompanhar no cinema, se possível, em sala com o pacote todo, IMAX, 3D, 4D, pipoca e guaraná. Só evite se tiver labirintite.
O uso destes recursos visuais não gratuitos. O personagem Dr Strange nasceu no auge do psicodelismo, inspirado, por exemplo, pelo submarino amarelo dos Beatles. É muito natural que o seu filme seja recheado de viagens visuais e imagens inquietantes.
O roteiro, por sua vez, traz alguns furos, mas nada que atrapalhe a curtição da película. Não foge um milímetro da consagrada fórmula da Saga do herói, decifrada por Campbell e largamente divulgada por Vogler. Mas, a utiliza sem apelações.
No entanto, não é cinema europeu. É blockbuster dos melhores. Você tem que fazer igual ao Stephen, desligar a maquininha de pensar e se deixar levar pela magia.
– Em outras palavras, vá para se divertir e divirta-se.