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O ano incógnito

12 de novembro, 2016 - por Max Franco

Não sei por você, mas, por mim, 2016 já deu o que tinha que dar. Ou, na verdade, o que nem devia ter pensado em dar. Porque, aqui entre nós, se deu, deu errado. Foi um ano que devia ter morrido casto ou avarento, sem dar nada. Isso! Melhor dar nada do que dar mal, como, de fato, só deu.
Particularmente, sempre considerei que anos não nos fazem nada. Nós que podemos abastecer os nossos anos de algo. Porém, no caso de 2016, vou abrir uma exceção. 2016 deu ruim. E foi um ano que, ao dar errado, deu errado. O pior deste ano desorientado tem sido a dificuldade geral de tentar decifrá-lo. Eu não sei de ninguém que tivesse algum êxito ao tentar explicá-lo. E olha que procurei. Essa é a questão com 2016: foi um ano incongruente.
Como você, por exemplo, vai conseguir explicar para as novas gerações que uma presidente de um país foi deposta do seu cargo por uma horda – evidente e abertamente – pior do que ela?
Você vai tentar explicar de que maneira um palhaço fanfarrão, totalmente destituído de projeto e ética, como o Trump, conseguiu se tornar presidente do país mais poderoso do mundo?
O engraçado do caso do Trump é que, mesmo tendo apenas duas alternativas para assumir o cargo, foi uma imensa surpresa a sua vitória. Como assim? Se só podia ter sido um dos dois, então como se explica essa perplexidade? Quem mais poderia ter sido, o Bob Dylan?
Falando em Dylan, o que dizer de um ano onde quem ganhou o nobel de Literatura foi um músico?
Outra coisa incoerente neste ano maluco foi a inépcia da imprensa em apresentar análises para os fatos cotidianos. 2016 foi o ano de jornalista bater cabeça. Ando sugerindo apostar contra tudo que a mídia aponta como favorito. Veja o que ocorreu com o plebiscito na Colômbia sobre a questão das Farcs. Que mico! O resultado pegou todo mundo com as calças na mão e viram que o rei também estava nu. Exatamente como aconteceu na Inglaterra no caso do Brexit. Outra bola fora, distante quilômetros.
Ninguém entendeu nada. Os analistas previram como certo, deu o contrário, depois, muito eloquentes, eles voltaram para explicar. Como assim? Depois do ocorrido, não dá para tentar prever o resultado. Este foi o ano onde os videntes previram o passado. Todos boquiabertos, gaguejantes, vacilantes…
Então, o que esperar de 2017?
Por via das dúvidas, em vez de esperar o pior ou vaticinar o melhor, eu espero apenas esperança.