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Meus olhos

04 de novembro, 2022 - por Max Franco

Admiro gente firme-decidida que sabe tanto e se sabe tão bem.
Gente de vida catalogada na prateleira, gente de vida cada-coisa-no-seu-lugar.
Mais que admiro, invejo.
Pois enquanto uns são convictos, eu nem me desconfio.
Eu que me esquadrinho e persigo;
Eu que me revisto e vasculho;
Eu que me mapeio e garimpo;
Eu que me espio e investigo;
Eu que me interrogo e torturo;
Eu que me duvido e questiono;
Eu que me escaneio, hackeio, stakeio;
Eu que me sondo e vigio;
Eu que me penso, reflito e cogito.
Eu que pago detetive para me seguir.
Depois de tudo, me confundo.
Acabo me sabendo menos ainda do que antes.
Antes mesmo me saber tão dessabedor de mim mesmo.
Mas o que me encabula mais que tudo é que eu moro comigo e de mim sei tão pouco;
Como um sujeito fora de mim poderia se saber tão bem a ponto de me saber mais do que eu?
Perdas, ganhei tantas.
Coisas, perdi todas.
De mim, perdi-me várias vezes. Marquei encontro. Desencontrei. Perdi a hora e o lugar. Por fim, perdi-me de mim mesmo e depois do resto.
Foram-se os anéis, depois os dedos.
Amigos, porém, perdi nenhum.
Quem não é, não era.
Só se perde o que se tem.