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Gamificação na Escola: Seppo e o modelo da Finlândia

04 de janeiro, 2019 - por Max Franco

No Pisa, teste educacional aplicado pela OCDE — associação que reúne as economias mais ricas do planeta — para avaliar a competência de jovens de 15 anos em matemática, leitura e ciências em 70 países, os finlandeses surgem, há anos, entre os melhores do mundo. A Finlândia é uma das maiores potências educacionais em todo o mundo, mesmo sendo um país pequeno. OS finlandeses conquistaram, em 2017,  o quarto lugar no ranking de leitura, o quinto no de ciências e o 11o no de matemática, enquanto, no mesmo ano, os estudantes brasileiros se detiveram entre a 59a e a 65a posição. A Finlândia também está entre os cinco países mais inovadores do planeta. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o país é o número 1 em capital humano, liderando o ranking de 130 países em três categorias, que variam de zero a 54 anos, de um total de cinco categorias por idade. 

A história de sucesso da Finlândia deu início nos anos 60, período em que um país pobre, sem grandes perspectivas, passou a investir os lucros da indústria de papel e celulose para o financiamento de políticas de bem-estar social. Nos anos 70, uma reforma definiu o ensino gratuito para todos e priorizou a formação de mão de obra qualificada. Essa evolução foi essencial para que, nos anos 90, despontasse uma poderosa indústria de telecomunicações no país.

Se a educação ajudou a transformar a Finlândia numa economia menos dependente de recursos naturais e cada vez mais voltada para o conhecimento, agora ela deverá ajudar o país — que celebra em 2017 o centenário de sua independência — a dar outro salto. Se todo o mundo olha para a Finlândia como um exemplo, por que não vender suas melhores lições para quem quiser comprar?

Hoje, a Finlândia é uma das nações com maior índice de leitura da Europa: são 70 milhões de livros emprestados das bibliotecas públicas num país de 5 milhões de pessoas. Ao longo de décadas, a Finlândia construiu um sistema que prima pela qualidade na construção do conhecimento e pelo bem-estar das crianças. Elas começam a ser alfabetizadas aos 7 anos. Antes disso, passam por creches e pré-escolas em que o foco é nada além de brincar, especialmente ao ar livre. O inverno glacial não é desculpa para ficarem trancadas. A rotina é a mesma até quando o termômetro registra 15 graus negativos.

Nas escolas da Finlândia, os alunos não cumprem longas jornadas de aulas, têm pouca lição de casa e as provas não são o principal instrumento de avaliação  aulas de artes, artesanato, esportes e economia doméstica. “O objetivo não é formar apenas estudantes competentes, mas cidadãos capazes de cuidar de si mesmos e dos outros”, diz a psicóloga mineira Juliene Ferreira, que está fazendo doutorado em educação na Universidade de Tampere.

As aulas são cada vez mais interdisciplinares. O novo currículo nacional propõe, por exemplo, que disciplinas como ciência, matemática e música possam ter aulas integradas em um projeto. Antes mesmo da mudança, os professores já colocavam em prática duas vezes ao ano módulos de “aulas sobre fenômenos”, que combinam conteúdos para tratar de temas do cotidiano.

Os professores têm lugar de destaque na sociedade finlandesa. A carreira é valorizada e, para pisar numa sala de aula, é preciso ter mestrado. Em 2015, a taxa de aprovação nos cursos de formação de professores foi de 4,2%. Ou seja, lá é mais difícil ser professor primário do que ser médico, cujo índice de aprovação nas faculdades é de 8,8%. Embora não recebam salários extraordinários, os vencimentos mensais de 2 800 euros permitem uma confortável vida de classe média. 

A marca Finlândia na área de educação tem sido explorada também pelas startups de tecnologia. Por muito tempo, a Nokia foi um dos símbolos da inovação industrial do país, mas a companhia entrou atrasada na onda de smartphones e perdeu relevância — ainda que tente agora se reerguer. No entanto, a empresa ajudou a formar uma mão de obra supercapacitada no setor de telecomunicações, e as novas gerações estão cada vez mais interessadas em empreender no país.

Uma delas é a Seppo, plataforma de games voltada para a educação. A empresa foi criada em 2011 pelo professor de história Riku Alkio após uma excursão a Roma, na Itália, em que ele levou 24 alunos de 17 anos. Para tornar a viagem mais interessante, surgiu a ideia de fazer um jogo inspirado no popular reality show americano Amazing Race, em que os competidores solucionam desafios pelos locais onde passam. No jogo criado por Alkio, os alunos procuravam objetos de arte e identificavam estilos arquitetônicos nas igrejas romanas. “Mesmo após o fim das atividades escolares, os alunos queriam continuar jogando. Percebi que ali havia um negócio a ser desenvolvido.”

Hoje, a Seppo já é utilizada por mais de 200.000 estudantes de 1.000 escolas em 20 países, incluindo o Brasil. Aqui, a plataforma foi adotada pela faculdade Eniac, de Guarulhos, e já foi testada pelo Senai do Paraná, que negocia um contrato. O modelo é de assinatura por parte da escola, que paga de acordo com a estimativa de usuários. A conexão de cada estudante ao site custa, em média, 5 euros por ano. Na plataforma, há jogos prontos disponíveis — como o de biologia para ser utilizado no Parque Ibirapuera, em São Paulo, onde alunos de 11 anos identificam sementes, árvores e animais — e opções para professores construírem jogos personalizados. Os finlandeses nunca imaginaram que a educação que tanto os orgulha pudesse chegar tão longe e alcançar tantas mentes. E, de quebra, render um bom dinheiro. 

FRAGMENTO DA MATÉRIA “Campeã em educação, Finlândia agora exporta seu modelo”, (EXAME, nov 2017)

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