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#vaidarcerto?

26 de maio, 2021 - por Max Franco

Não sei se gosto dessa hashtag #vaidarcerto que vemos pelos muros das cidades.
Nada contra motivar as pessoas. Afinal a bad está tão avassaladora que, decerto, vale a pena apelar para algum fiapo de esperança, nem que seja um slogan ou um mantra.
O fato é que não consigo cancelar o pensamento invasivo que me sopra aos ouvidos uma questão incômoda: vai dar certo para quem?
Na maravilhosa série “Handmaid’s tale”, um dos antagonistas impõe a sua vontade com este argumento: “Assim é melhor”. Mas o ponto é justamente este: o melhor para quem?
O melhor nunca é melhor para todos. O “certo” parece que sofre do mesmo mal.
Não dá para se esquecer de que já não deu certo para todos que perderam seus meios de vida, seus empregos e empresas.
E não deu nada certo para os mais de 450 mil mortos e seus entes queridos.
Então, vai dar certo para quem?
Talvez para aqueles que perderam menos ou pouco e sairão com todas as condições de superar seus desafios.
Mas, o que farão os vulneráveis e combalidos? Qual é a esperança para este pessoal? Muitos, certamente, adentrarão em ambientes de ainda maior fragilidade, seja social, seja psicológica.
O fato é que estampar por aí #nãovaidarcerto também não ajudaria nada.
E pensar que vai dar certo não faz que as coisas realmente deem certo, mas nos ajuda a levantar da cama.
Entretanto, precisamos incutir na sociedade brasileira um adendo ao #vaidarcerto. Precisamos disseminar a ideia de que só vai dar certo quando der certo para todos. Precisamos deixar de ser povo e virar comunidade.
Porém não é este exatamente o destino para o qual estamos nos direcionando, não lhe parece?
As privações da pandemia estão nos empurrando ainda mais egoísmo e individualismo. E, por isso, estamos cada vez mais divididos, acirrados, entricheirados, ensimesmados…
Como agravante, além do vírus, temos seu propagandista no poder. È uma espécie de Goebbels destituído de verve. Temos um governo bestial que – todos os dias – conspira e age contra nós. E o pior, com apoio de parte da população. Há um bando enorme de ovelha que faz campanha pelo lobo.
Temos, ainda, uma pandemia que nos acena com ainda mais sofrimento, penúria e mortes. Devemos manter a esperança, professor! Alguém vai me dizer. E eu respondo: todas as vezes que nutrimos alguma expectativa produtiva sobre este vírus, falhamos miseravelmente. Terceira onda, então, deve vir e, pelo que já vimos, será ainda mais mortal. Vacinas para todos? Nem tão cedo.
Talvez…
Vai dar certo?
Talvez…
Para alguns.
Se eu fosse pessimista, diria que estamos todos sob ameaça e não temos ninguém por nós.
Pessimista? Não sei… Todas as vezes que esperamos melhor, o pior estava na próxima esquina nos esperando. Não dá mesmo para ser conscientemente good vibes quando morrem milhares por dia de uma doença que já tem vacina. 
Mas não sou pessimista.
Ariano dizia que “Os otimistas são tolos. Os pessimistas são chatos. O melhor é ser um realista esperançoso. “
Por isso, sou arianista.