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Tudo bem

31 de dezembro, 2020 - por Max Franco

Se você está lendo esse mísero post, isso significa que está vivo. Portanto, você pode comemorar.
Se você não perdeu ninguém do seu afeto em 2020, você também pode comemorar.
Se você não perdeu seu emprego ou tem ainda condições de se manter, você tem muito a comemorar.
Se você ainda tem algum equilíbrio emocional e resquícios de juízo, sem se manter integralmente alienado, você poderia fazer uma festa.
2020 foi o ano das necessidades básicas.
Foi o ano em que se desejar saúde virou a melhor saudação.
Foi o ano em que se perguntar “tudo bem?” realmente queria dizer tudo bem?
Porque, para muita gente, não foi nem perto de “tudo bem”.
Então, se a sua resposta para o “tudo bem” , for “tudo” ou “quase tudo”, comemore, porque para muitos, “tudo bem” passou longe.
Mesmo que “tudo bem” nunca seja, de fato, tudo, é grande a vantagem de quem pode dizer “tudo”, porque tudo é muita coisa em um período no qual vários perderam tanto.
Para dizer a verdade, em 2020, ninguém poderia responder “tudo” com tal parcimônia. Há muita gente sofrendo para você ficar aí contemplando embevecido o próprio umbigo.
Em outras palavras, se você consegue dizer “meio”, já é algum motivo de comemoração. Afinal, se você consegue dizer é porque está vivo e, quem sabe, com saúde.
2020 pegou pesado, irmão! O ano? Não, a Vida. Na verdade, a Vida não, a Morte. Toda dor vem sempre da morte. Da morte dos bons momentos, da morte dos sonhos, da morte da esperança, da morte morte da fé nos homens, da morte das amizades, da morte de um amor, da morte na morte.
Em 2020, morreu-se muito e muita coisa.
Mas você está vivo!
Agora nos resta contabilizar as perdas, contar os vivos, juntar os restos, garimpar coragem, juntar-se com confiamos e seguir adiante. A ideia de troca de ano sempre traz esperança e motivação, artigos que andam em baixa.
Pois renovemos a confiança. No ano? Jamais. Ano não faz nada. Nós que fazemos ao ano.
Então, no que? Em nós mesmos? Talvez, mas não muita. Somos de matéria falha, frágil e inconstante.
Afinal, no que? Em quem?
Nas possibilidades. Há sempre possibilidades.
Precisamos acreditar que iremos poder dizer, mais algumas vezes, “tudo bem” parecendo mesmo com “tudo bem”.
Precisamos crer no “tudo bem” futuro.
Porque se, com metas, é difícil.
Sem estas, é praticamente impossível.
Pois lhe desejo, caro amigo, cara amiga, que você possa responder em 2021 “tudo bem”, mas um tudo bem autêntico, legítimo, encharcado de esperança.