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Silêncios e Palavras

26 de janeiro, 2024 - por Max Franco

Concordo com a ideia de que generalizar tudo é um equívoco. Mas, relativizar também é.

Então, seguindo essa premissa, corremos sempre o risco de pisar o equívoco, mesmo ficando silentes, porque nessa ocasião podemos pecar por omissão. Mas do que é feito o seu silêncio?

Pecamos – afinal – por atos, palavras e omissões. Mas palavras não são atos? Silêncios não são omissões? Também não posso me omitir por meio de palavras escorregadias? Por tudo isso, quem tem coragem de errar dizendo algo, fazendo coisas, se posicionando de alguma forma diante da inércia, da lassidão, da mesmice, da preguiça moral que vigoram no mundo anda merecendo a minha admiração. Mas quem sabe calar, também merece…

Só há ação, porque há verbo. Viva o verbo! No início era, e ainda é. A Palavra – ontem, hoje e sempre – tem mesmo poder.

– Como você cuida das suas palavras? De que modo você aplica o seu silêncio? Quando você silencia? Em qual ocasião? Sua mudez é por conveniência ou aleatória? Sua mudez é covardia ou ignorância?
Em contrapartida, devo dizer que se suas palavras forem impregnadas de adulações, crueldades, inverdades ou dissimulações, o silêncio será sua salvaguarda. Silêncios podem ser oportunos e eloquentes.
Há, entretanto, os silêncios oportunistas.
Bem-aventurado aquele que sabe empregar com precisão palavras e silêncios. Cada um, afinal, tem o timing certo. Falar no momento em que devemos calar é uma temeridade.
Amordaçar-se nas ocasiões nas quais devemos nos posicionar, um acovardamento.
Há quem saiba exatamente qual a sua deixa.
E há quem, mesmo sabendo, simule dessaber sufocando as palavras que nasceram para ser ditas, naquele momento.
Palavras são seres excepcionais, sentimentais e sensíveis. Não as trate bem que elas se vingam.
Palavras mordem a língua daqueles que as usam mal.
Palavras roem os dedos daqueles que as formulam injustamente.
Não há recall de palavras. Palavras são pedras atiradas.
Palavras não perdoam.
O silêncio, por sua vez, é ainda mais temperamental. A palavra certa, na hora correta, sonegada, inaudita, desarticulada, costuma atormentar os sonhos dos covardes.
Palavras e silêncios pedem ocasião, respeito, atitude…
E coragem.