https://www.maxfranco.com.br/cronicas/o-gosto-do-lugar/

O gosto do lugar

17 de novembro, 2021 - por Max Franco

Granada – dia 4

 

O 4º dia em terras espanholas foi dedicado ao trabalho, porque nem só de passeios nas ramblas e crepes de Nutella com capuccino se faz um homem.

Pela manhã, Ingrid foi para aula. Levantei-me para fazer seu café da manhã. Coisa que costumo (e amo) fazer para aqueles que amo. Cortei uma maça em pequenos pedaços e servi com mel e cereais. Lógico que também houve o café, porque café da manhã sem café vira apenas “da manhã”.

Depois da sua saída, também aproveitei de um bom desayuno e me dediquei aos Jobs que me pediam a minha atenção.

Depois de um texto para o blog, fiz uma apresentação para o Maker Educ, a qual, posteriormente, a Ingrid editou no canva. Promovi duas mentorias online e tratei com dois novos mentorados que atenderei na próxima semana. Eis uma das boas (poucas) heranças da pandemia: o job remoto não sofre mais preconceitos. O trabalho de mentoria, por sua vez, exige dedicação para que seja possível atender às demandas de cada um dos mentorados. Um deles, o médico que ama cultura pop, por exemplo, quer criar conteúdo para o seu site. A empresária do ramo de beleza, por sua vez, escrever sua biografia. Um executivo de grande multinacional vai redigir um livro de crônicas. São muitos interesses, todos bastante diversos. Mas fico bastante satisfeito de poder ajudar essas pessoas a descobrirem seus talentos, muitas vezes, escondidos por toda a vida. E é bárbaro vibrar com eles sobre suas vitórias.

O dia seguiu e, no meio da tarde, convenci a filha a fazer mais um passeio pela cidade. Queria seguir mais uma vez pela Gran Via e vasculhar o bairro de Albaicin.

– Quero tomar um café à sombra da catedral, Di!

– Pai, está tudo cerrado. Aqui em Granada, as coisas só reabrem às 17 horas.

– Isso não pode ser geral. Vamos.

Era geral, sim. Todo cerrado!

– Você é teimoso, pai!

– Filha, ao menos um café vamos achar!

Achamos exatamente em frente da Catedral. O dia estava azul. O céu límpido-sem-nuvem-alguma era uma redoma anil sobre a velha catedral tão velha quanto o nosso país. Ingrid estava brilhando com o seu crepe de Nutella, creme e banana nas mãos. Os turistas e passantes que faziam fotos da igreja pareciam conjugar com os nossos sentimentos de exultação. Se existia alguém infeliz ali naquela praça no fim de tarde daquela terça-feira, não o estava demonstrando.

Conhecer bem uma cidade é comê-la. Sempre soube disso. Sempre o fiz nas minhas viagens. Comer o lugar é fundamental. Não precisa apelar para as coisas esquisitas só para dizer que ingeriu isso ou aquilo. Viagem não é ocasião para se ingerir coisa alguma, mas para provar sem pressa, para contemplar a comida e a bebida e o aroma e as cores da comida e da bebida. Conhece-se uma cidade não só pelos olhos, mas também por meio da língua, do palato, tato e nariz.

Por fim, deliciados com o que vimos, fizemos, comemos, sentimos e amamos, partimos para o apezinho da filha. Eu tinha mais trabalho. Mas, estava tudo bem. Tínhamos um ao outro. Tínhamos nossas histórias.

E outras viriam.