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O dia dos meus dias

20 de fevereiro, 2024 - por Max Franco

Hoje é o dia dos meus dias!

O dia em que me tornei cotidiano. Dia em que me fiz – diariamente – digno ser chamado de vivo. E é que o sou, bem ou mal, melhor ou pior, desde o tal primeiro dia, o 20 de fevereiro de 1970.
Sim, sou destas eras. Por isso, há quem me tenha por senhor, arcaico ou até veterano. Outros me dizem velho mesmo. Enquanto eu por mim, nem sei bem o que sou, só o que sei e principalmente o quanto não sei.
Eu, por mim, me sei menos e conto pouco os meus anos. Sou mais do que sei e sei o que sei e o que ignoro, que é tanto. Sou meus saberes e dessaberes.
Sei, porém, que a Vida é repleta de desconhecimentos. Vida talvez é coisa que se viva e não que se saiba. A sabedoria deve ser, portanto, aquela longa busca pelo que dessabemos. O sábio, então, é sempre um ignorante, mas um ignorante inconformado, incomodado, desacostumado.
Hoje olho para os anos que tive e nem sempre me congratulo por muito do que fui. Queria profundamente ter sido melhor, para os outros e, da mesma fora, para mim. Todavia sei que nem sempre o fui. Em relação ao autor deste texto, por exemplo, muita vez fui de uma crueldade abissal. Quase uma indiferença. E pouca coisa é pior do que a indiferença, não é?
Porém passado é coisa pretérita. Podemos nada com o que passou. Ou quase nada, que é não repeti-lo.
Pois nos últimos anos tentei me recriar e me reinventei. Puxei lá de dentro uma persona que andava perdida, rondando territórios desabitados, exilada. Resgatei, então, o sujeito que observo no espelho. Está diferente. Tem um olhar quebrado, barba quase branca, um sorriso torto e diversas cicatrizes espalhadas pelo corpo e alma. É uma pessoa melhor? Tomara, quisera… Entretanto – o sei – busca por isso.
Por sorte, me restaram pessoas – algumas – que me ajudam a ser quem desejo. Pessoas que amo e, incrivelmente, me amam também. Por estas, morreria sem pestanejar. E é por elas que vivo hoje, bem como pela persona que busquei lá de baixo, metro por metro, dia após dia.
Quero, então, viver cada dia como quem aprecia a melhor iguaria, como quem sorve o vinho mais delicioso, rindo cada sorriso, chorando cada lágrima… Vivendo tudo com parcimônia, equilíbrio e intensidade.
No mais, me conforta saber que a Vida se vive para frente, hoje, talvez a partir de hoje, quisera amanhã e depois, e depois… Cada dia com a sua dádiva, com seus mistérios, e medos, e dores, e belezas.
Pois que venha o hoje, o dia dos meus dias, e todos os outros.