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A Morte não é o contrário da Vida

13 de março, 2023 - por Max Franco

A Morte não é o contrário da Vida. A Morte é a consequência da Vida.

Morreu muita gente que se especulava imorrível nesses últimos tempos: Pelé, Maradona, Roberto Dinamite, Gal Costa, Sean Connery, Jô Soares, Elza Soares, Milton Gonçalves, Arnaldo Jabor, Erasmo Carlos e até a Rainha Elisabeth II.

Dustin Hoffman tem mais de 80 anos. De Niro e Al Pacino, 80. Caetano, Gil, Milton e Chico estão nessa mesma toada.
Cazuza, Renato Russo e Senna teriam mais de 60.
O que quero dizer com isso? Simples: quando seus ídolos ou estão velhos ou mortos, você também não deve estar muito longe da velhice ou do túmulo.
Essa informação não é coisa simples com a qual lidar, mesmo que saibamos que além da vida só há uma realidade tão natural quanto, e é a morte.
Somos, afinal, todos os nascidos predestinados à decadência e à morte. Entretanto, não só costumamos adiar a ocorrência, mas também o ato de pensar sobre.
Somos pré-defuntos em negação, perambulando de cá para lá como fôssemos eternos. Mas, não somos, somos?
Ninguém consegue tratar de tal assunto com grande naturalidade. Afinal, não é temática mais agradável que existe. Ninguém que existe está preparado para inexistir. Ninguém sabe o que é inexistir. De tal forma que, desde os mais tenros anos da humanidade, inventamos narrativas e subterfúgios para tentar fugir do fim inevitável. É que ninguém está preparado nem para a Vida nem para a Morte. Por isso, é melhor pensar que existe um depois do precipício. Que após, não há precipício, mas ponte.
Ninguém soube ou sabe encarar o fato de não mais ser. Sabemos apenas ser, e mal.
A velhice, a demência e a morte desses ícones pop que foram ou são nossos modelos nos ensinam aquilo que já sabemos: não importa se você é belo ou feio, famoso ou anônimo, rico ou pobre, chegará o dia no qual não haverá mais dias. Dias sem aurora e crepúsculo. Será o hoje sem amanhã. Os olhos se fecharão para sempre e você se tornará apenas memórias e histórias. Depois nem sequer memórias e histórias, será um grande silêncio.
Talvez você acredite em outra coisa. Tudo bem. O desespero nos empurra muitas crenças. É natural. Mas, no fundo da sua alma inexistente, você já se deu conta. Depois da Vida, não há vida.
E o mais irônico é que, tudo indica, mesmo que você seja lembrado, celebrado e cultuado por milhões, não restará nada seu, nenhum fiapo de consciência seu, absolutamente nada seu.
Você só estará vivo nas lembranças e nas histórias, por um tempo.
O pretérito estará lá. Retratos chumbados nas paredes dos tempos.
Não há o que se fazer. Não há mão invisível que apague o que foi pintado com tintas tão inexoráveis.
Não há alavancas que arranquem as imagens desses muros.
Só o que nos resta é colocar outras com mais cuidado. Dessa vez com jeito e capricho.
Hoje, só hoje.
Porque a Morte, meu caro, sinto lhe dizer, está viva e nos espera, paciente, ou nem tanto. Espero que muito.
A verdade é que só temos entre as mãos: esse frágil, efêmero, escorregadio, volúvel, fluido e fugidio agora. O resto é especulação e tentar controlar o incontrolável. O tempo é inexorável.
Depois da Vida, caro amigo, você só sobrevive nas histórias.
É que a Vida é uma obra inacabada, até que acaba.