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A dívida e a dádiva

27 de março, 2023 - por Max Franco

Qual dádiva maior podemos deixar para as novas gerações do que a Educação?

Não obstante, a verdade é que educar nunca foi tarefa fácil, e, agora, nestes primeiros anos deste confuso milênio que há tão pouco tempo estreou, parece ainda mais desafiante.
Não faltará, contudo, quem questione – até com certo fundamento – as minhas conjecturas. Como assim “desafiante”? Vivemos na era da informação imediata, on line; da informação portátil, touch; da experiência 5D, 5G, cincopontozero, do metaverso, do chatgpt, ou de sei lá mais o quê. Como assim educar pode ser algo tão difícil com tanta tecnologia de bobeira por aí?
A resposta é simples: informar é uma coisa, educar é outra.
Sabemos, no entanto, que nem se informar direito está fácil, porque a verdade é uma agulha nesse palheiro de fake news que nos assolam diariamente. Portanto, quem não é educado para informar-se nem sequer se relaciona bem com a grande gama de informações que teria acesso. Boa parte dos seres humanos, urbanos ou rurais, acaba ignorando o mundo ao seu redor ou algo igualmente pernicioso: engolindo tudo sem crivo ou espírito crítico, tornando-se, assim, a famosa massa de manobra tão útil para a manutenção do status quo de qualquer sistema.
A pergunta que me vem quando o vernáculo “Educação” se apresenta em qualquer mesa é simples: educar para quê? As boas escolas deste país, ao menos até o ensino médio, têm uma performance excelente quando se propõem a fabricar bons alunos, competentes e competitivos, entretanto apenas bons repetidores. Onde está, afinal, se produzindo seres criativos e inovadores neste país? Estamos estimulando as novas gerações a pensar e criar novos paradigmas?
É justamente nesta encruzilhada conceitual que se apresenta um dilema fundamental: se tivermos apenas bons repetidores, como faremos para solucionar os antigos e novos problemas que , a cada dia e cada vez mais, vêm bater à nossa porta? Todos sabemos, por exemplo, que o mundo atual é acossado por uma grande crise ética, econômica e ambiental. Como fazer, portanto, para lidarmos com estes problemas abissais? Que tipo de ser humano está saindo das nossas escolas? Se a resposta for um sujeito crítico e empreendedor, cidadão e participativo, protagonista da sua vida e provocador de mudanças positivas, seria perfeito.
Mas é?
E a família, onde fica nesse tabuleiro de xadrez?
Antes de tudo, precisamos enxergar que não existe apenas esse substantivo no singular. Há famílias e há famílias. Cada uma
com a sua realidade e inclusive com a realidade de não existir. De maneira geral, a família quer educar. Lógico que quer. Mas anda bastante confusa na hora de fazê-lo. Os valores hodiernos andam diferentes. As paisagens sociais mais ainda. A família até pede ajuda para a escola. Por isso é tão importante que se escolha uma escola que melhor sintonize a sua prática às suas aspirações. Não dá para reclamar da areia depois que se escolha ir à praia.
E quanto às instituições de ensino superior, elas estão, de fato, engajadas na construção deste novo homem do século XXI ? A universidade precisaria atender melhor às demandas da sociedade? Talvez sim. A universidade tem um papel essencial por uma razão muito simples: ela faz parte da sociedade. Infelizmente, o que se vê certas vezes é a academia encastelada no cume do seu Olimpo intelectual como estivesse à parte das agruras da modernidade, das questões cruciais da humanidade.
Então como se educar se a escola está equivocada, a universidade, isolada e a família, perdida?
Sim, e o Estado, onde entra nessa conta?
Formar o cidadão, isto é o que importa. Educar para a cidadania. Afinal, a única chance que temos de reverter as estatísticas
de desigualdade social, da violência e dos déficits estruturais é a de povoarmos as cidades de cidadãos, que possam ser competentes e competitivos, é claro, mas também que sejam sensíveis às necessidades coletivas. Que interfiram positivamente. Que pensem na comunidade. Que encontrem saídas e soluções não apenas para si mesmos, mas para o coletivo.
A família, a escola e a universidade. Este é o tripé sobre o qual está erigida a nossa educação. O que a sociedade precisa é fortificar essas instituições. Precisa, obviamente, também se dedicar profundamente a formar os profissionais. Todo mundo precisa estudar, e muito… Como também precisamos apoiar os educadores e contribuir para que eles possam fazer o papel que lhes cabe numa tarefa indispensável: garantir o nosso futuro.

A verdade é que temos uma dívida com as próximas gerações e precisamos começar a saldá-la. Temos uma dádiva a entregar.