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Cinema e Educação – Aplicações educacionais do storytelling

11 de julho, 2020 - por Max Franco

Já faz décadas que o advento do cinema vem se solidificando como  um dos mais populares modos de expressão cultural da sociedade  contemporânea. A relação entre cinema e educação, seja no âmbito da educação escolar ou da educação informal, faz parte da própria história do cinema. Afinal, desde as primeiras produções cinematográficas, estas são consideradas como poderosas ferramentas para a educação.

Não obstante, o cinema é, na mesma proporção, uma máquina influente de doutrinação ideológica, como observamos nas produções de cunho nazista durante o período da 2a guerra ou nos filmes americanos e russos, no auge da Guerra Fria. Da mesma forma, o cinema também é uma usina de padrões, de beleza, comportamento, moda, alimentação e hábitos de consumo, como ocorreu com a indústria do cigarro nos meados do século XX.

Mesmo com todas as inovações tecnológicas e inserções de novas mídias dos últimos anos, o cinema ainda exerce no século XXI um robusto fascínio sobre as massas. ídolos de Hollywood ainda provocam suspiros, comoção e definem padrões. A grande diferença, talvez, seja que o cinema não está mais condicionado ao ambiente do cinema. O que ocorria na telona, hoje acontece na tela e até nas telinhas de tablets e aparelhos celulares.

A partir desse contexto, as produções cinematográficas e de séries televisivas podem ser inseridas no processo ensino-aprendizagem de qual maneira?

A aplicação das narrativas urdidas pelo universo do cinema e das séries como ferramentas pedagógicas possibilita o foco em aspectos culturais, históricos, literários e políticos, favorecendo uma visão integral das relações sociais, de fenômenos científicos, momentos históricos, adaptações literárias, entre outros. Ao ser encarado como uma mídia educacional, o cinema ganha a chance de inserir-se na sala de aula de forma promissora e atraente aos alunos. O grande trunfo das produções audiovisuais é, além da natural sinergia gerada pelas narrativas e, principalmente, pelas narrativas transmitidas por meio de telas, temos que considerar a sua imensa capacidade de envolver e engajar seus públicos.

Sabe-se que há filmes que podem ser percebidos como “educativos” para crianças e adolescentes. Mas, existem produções que exerçam igual papel educacional também para adultos, profissionais e, inclusive, professores?

Filmes como “O menino que descobriu o vento” e “Capitão Fantástico” são excelentes opções de entretenimento que também podem servir para suscitar reflexões existenciais, sobre modelos de Educação e utilização de metodologias ativas, tais como o PBL, cultura maker e storytelling, que é o uso de narrativas como um instrumento de engajamento e persuasão.

“Ao mestre com carinho”, “Sociedade dos poetas mortos, “O sorriso da Mona Lisa”, “Mr. Holland – Adorável professor”, “Gênio indomável” e “Clube do imperador”  são já considerados clássicos da temática e têm aquela capacidade que só os grandes filmes possuem de continuar emocionando geração após geração. Minimamente, são motores de propulsão, de inspiração para qualquer educador.

Há também aquelas produções cinematográficas que são oportunas para estimular debates polêmicos e atuais: “A onda”, “Encontrando Forrester”, “Preciosa – uma história de esperança”, “Mentes perigosas” e, por fim, “Escritores da liberdade”, um belo filme que merece atenção não só por ser baseado em uma história verdadeira, mas também pelo fato de trazer muitas inferências e sugestões aplicáveis e atuais de metodologias ativas, tais como o uso de storytelling, da pedagogia de projetos e do PBL

 

Escritores da liberdade

Escritores da liberdade (2007) é um longa que narra a história da professora Gruwell (Hilary Swank), uma jovem idealista professora que chega à uma escola de um bairro periférico que é acometida de uma violência estrutural e crônica. Tudo e todos (todos mesmo!) ao seu redor concorrem para que ela desista de tentar fazer algo de diferente com esses jovens agressivos e desinteressados, porém Gruwell lança mão de métodos diferentes de ensino e, aos poucos, consegue que os alunos vão se interessando pelas suas aulas e, com isso, vão retomando a confiança em si mesmos.  É um exemplo de como, por meio da inserção de metodologias inovadoras de ensino, da Literatura e das habilidades socioemocionais, até os contextos mais adversos e arredios podem ser transformados.

“Escritores da liberdade” é um filme obrigatório para qualquer educador dos dias atuais. Um filme que ensina o valor da empatia, dos livros e de um bom professor. Um filme que ensina a ensinar. É um exemplo cabal de metastorytelling, que seria o uso do storytelling como elemento metalinguístico dando suporte ao próprio storytelling (com a utilização de narrativas internas, como a do “Diário de Anne Frank e dos relatos dos próprios alunos) e a outras metodologias, como o PBL, os fóruns, a socialização de impressões, a gamificação, entre outras que se encontram no enredo.

Escritores da liberdade é, também, um buffet completo para quem quiser entender como trabalhar as competências gerais da BNCC, tanto quando se fala das habilidades técnicas, como das socioemocionais.

Esta é grande virtude de qualquer filme. É que filmes retratam o pensamento e a criação humana em determinados contextos sociais e históricos, e portanto, educam a quem lhes assiste, provocando naturalmente reflexão e  impressões sobre o mundo.

O cinema detém de grande potencial pedagógico, uma vez que é muito mais simples, tanto para uma criança, quanto para um adulto, absorver informações oriundas de estímulos audiovisuais. O filme ajuda o professor a romper com  métodos convencionais das aulas fundamentadas pelas velhos modelos de ensino-aprendizagem, na aula palestrada e na explanação eterna, podendo servir tanto para trabalhar conhecimentos quanto para fazer analogias, atrair a atenção, ilustrar conceitos e demonstrar experiências.

Afinal, ninguém resiste a uma boa história, principalmente, quando bem contada.

Professora Gruwelll e os escritores da liberdade originais