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Narrativas de terror
20 de abril, 2023 - por Max Franco
Se você é brasileiro, acompanha minimamente os noticiários e, principalmente, tem filhos em idade escolar, é bem possível que esteja preocupado com a segurança das instituições básicas de ensino.
E, se estiver preocupado, não é à toa. Ninguém se sente pacificado ao cogitar que seu filho ou filha possa correr algum risco justamente no ambiente onde, depois da nossa casa, deveria ser o mais seguro.
A questão é que, de fato, o mundo é um lugar perigoso e viver, realmente, é um troço arriscado. A verdade que ninguém quer encarar é que não lugares sacrossantos, inexpugnáveis e intangíveis. Nem mesmo a nossa casa é invulnerável. Os dados dos incontáveis acidentes e crimes domésticos demonstram o quanto muitos lares são locais temerários. Entretanto, gostamos de pensar que vivemos em castelos invioláveis e resguardados por muralhas intransponíveis. Mas, não é verdade! Não há nem castelos nem muros inabaláveis.
O que fazer, então, para preservar nossos maiores afetos? A questão é mais complexa do que parece. Não há soluções fáceis para problemas complicados. Os Estados Unidos padecem sob este jugo há bem mais tempo do que nós. Infelizmente, amamos copiar as piores coisas dos nossos primos americanos. Poderíamos importar o jazz e o blues, mas trazemos os ataques covardes às escolas e o hot dog. Tanta coisa boa que poderíamos puxar para nós e temos que imitá-los justamente no que eles têm de pior. Veja só!
Os números mostram que os estadunidenses estão longe de vencer essa guerra cruel. São mais de 130 ataques por ano. As escolas – muitas delas – têm policiais à porta, detectores de metal, treinamentos e protocolos. Não obstante, o flagelo continua.
O problema é grande porque muitos temas estão associados à questão: bullying, desamparo familiar, solidão, abandono, exclusão… e, claro, como não pode faltar nos hojes em dias: as famosas, onipresentes e onipotentes redes sociais.
Nunca podemos nos esquecer que gostamos, desde muito tempo, de andar em bando. Se não somos aceitos em tribos saudáveis, é até natural que um sujeito solitário busque um grupo para chamar de seu. É por isso, que a cada dia que passa, mais jovens são recrutados (abduzidos) para participarem de quaisquer movimentos, dos mais prosaicos aos mais críticos. Todo mundo quer pertencer. E nada como uma causa radical para engajar mais e mais pessoas relegadas pela sociedade, principalmente quando o combustível para esse motor é um volume enorme de revolta e perda de sentido.
O que poderíamos, então, aconselhar às escolas?
-Tentes se guardar, sigam protocolos, formem seus educadores, promovam reuniões de pais para debater o assunto, reforcem sua segurança, mas, principalmente, abriguem, acolham, estejam atentas aos seus alunos que demonstrem maior vulnerabilidade. Educar mente e coração se faz urgente. No lugar do descaso, o afeto. No lugar do desamparo, o acolhimento. Matemática e Ciências são fundamentais, ademais é fundamental educar para se viver de modo saudável em sociedade, com formação acadêmica, mas também inteligência emocional.
– O que dizer aos pais?
-Ouçam a escola. Tem gente ali que estuda muito e há muito tempo. Educadores, muitos deles, são bons no que fazem e o fazem com amor e dedicação. Por isso, parem de culpabilizar a escola e olhem para si mesmos. Vejam se seus filhos não estão susceptíveis às unhas arreganhadas das redes sociais. Confiram seus celulares. Supervisionem seus atos, grupos e materiais. Conversem e conversem e conversem com seus filhos. Se todos os pais tivessem esses cuidados, muita dor seria evitada.
Ah, e outra coisa: parem de acreditar em tudo que lêem no whatsapp, pelo amor de deus! A grande maioria é uma espuma feia e fétida. É aconselhável não se deixar levar pelo pavor, pelas teorias da conspiração e pela comoção gerada pelas redes. Há muita gente (louca-desavairada!) dedicando horas do seu dia a levar terror para a sociedade. Eles têm um prazer doentio nisso! Há, nesses casos, dois tipos de terroristas: os que vão às vias de fato e aqueles que engrossam o coro do pânico social. Infelizmente, há gente insana que se refestela ao motivar, estimular e incentivar o desespero.
Em suma, há muito o que fazer. Mas, há um passo inicial e não é um passo simples. O fato é que uma sociedade doente é pródiga em gerar indivíduos doentes. Porém, se tivermos – cada vez mais e mais – pessoas amadas, felizes e com propósitos construtivos, mais teremos uma sociedade sã, justa, inclusiva e igualitária. Gente feliz não se dedica a ferir ninguém!
É o melhor conselho que se pode dar: ame seu filho! Faça tudo para que ele seja feliz. Não o mime nem o desampare. Não seja permissivo nem omisso. Escute-o. Valorize-o. Não o deixe só com seu aparelho celular. As redes sociais multiplicam muito mais anomalias do que bons hábitos, muito mais vícios do que virtudes, muito mais deméritos do que méritos. Há gente má e fanática por aí querendo machucar pessoas e seu filho é um forte candidato caso esteja à mercê dessas narrativas.
A questão é justamente essa: histórias mexem com a nossa cabeça.
Se tivermos contato contínuo com fake news, discursos de ódio, teorias da conspiração, narrativas discriminatórias e todo tipo de agressão verbal ou física, é natural que façamos parte dessa história e que ela faça a cabeça de quem está mais vulnerável.
Palavras são poderosas e arrebatam. Precisamos calar certos discursos!
Precisamos, portanto, é de palavras de compaixão, amor e justiça. Multipliquemos essas palavras.
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