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A melhor resposta
11 de outubro, 2025 - por Max Franco
Foi que ela se sentou ao meu lado e me sapecou a pergunta inesperada:
– Meu filho, você é feliz?
Eu larguei o livro e fiquei investigando a sua face tentando garimpar de onde teria vindo a questão ontológica.
É que ela tem andado distante nesses últimos anos. São os achaques da idade. 83 anos e um Alzeihmer infeliz. Desconfio de que talvez seja mais infeliz para nós, a família, do que para a própria (Mas só desconfio!).
Ela estava sentada do meu lado naquele balanço sem fim, fitando o infinito ou, quem sabe, apenas a parede.
Mas aí veio a pergunta “Filho, você é feliz?”.
E agora o que respondo?
Digo que felicidade é um conceito complexo?
Argumento que talvez não exista. Talvez seja o fim de um arco-íris ao qual você só acessa montado em unicórnio?
Apresento as noções dos filósofos epicuristas ou estoicos?
Falo que vou ao banheiro e saio à francesa?
Simulo dormir pesadamente?
Tudo me passou pela cabeça em menos de 5 segundos.
E ela continuava ali sorrindo na expectativa da resposta.
Era uma daquelas perguntas fundamentais não só para mim ou para ela. A verdade é que essa a Grande Pergunta dos nossos dias.
A humanidade durante milhares de anos não se preocupou com esse conceito abstrato que batizamos de “felicidade”. Até recentemente, a nossa única preocupação era sobreviver. Felicidade ganhou status quando as necessidades básicas, ao menos de uma parte da população mundial, foram saciadas. Felicidade é uma preocupação de quem tem a barriga cheia e alma vazia? Talvez.
Mas, não era esse papo que ela queria ter. Eu entendi. Em um fragmento de tempo, um pensamento lúcido se formara na sua mente. Ela queria saber se tinha valido a pena tudo que fizera. Todo o esforço e cuidado. Todas as renúncias e preocupações. Ela queria saber do resultado de anos de dedicação, muitas vezes até a madrugada, trabalhando como costureira para arrumar grana para nos sustentar. Ela queria colher o sucesso.
– Sou feliz demais, mãe. Graças a você. Obrigado! Muito obrigado!
Ela sorriu o sorriso mais aberto. Os olhos marejaram. Ela se balançou mais na cadeira e dormiu um cochilo.
Porque há horas nas quais o Amor é sempre a melhor resposta.
E o que é ser feliz afinal?
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