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De Cabral a Cabral

18 de novembro, 2016 - por Max Franco

Tom Jobim dizia que ser brasileiro não era para principiantes. Hoje, acho que nem para veteranos.
O problema é que, a cada dia que passa, aumenta a minha fé no Brasil e diminui a minha esperança. Afinal, fé é acreditar no que não se vê.
Não que eu seja pessimista. Longe disto. Quero um país decente e trabalho por ele todos os dias. Mas nem sou muito jovem para acreditar demais nem demasiado velho para desistir. Sou mais da idade do ainda do que do já.
Existe, lógico, quem esteja otimista acreditando que os últimos (e inúmeros) episódios bizarros do cenário político sejam um processo necessário e restaurador para o nosso país. Como costuma se dizer: temos que passar o país a limpo. Particularmente, entrevejo poucas chances de deixarmos de ser um rascunho eterno.
E a razão é simples. Ao enxergar melhor os desmandos e os desvios da política nacional, a revolta do brasileiro não reside na raiva, e, sim, na inveja. O brasileiro fica ressentido porque não foi ele o beneficiado pela propina, porque ele não participou do esquema, porque ele não tem a lancha, nem o apartamento, nem o sítio, nem o anel de R$ 800.000,00, nem a conta na Suíça, nem sequer a viagem para a Suíça… Não é rebeldia, é recalque. Se ele pudesse, estaria no conluio e faria parte do esquema.
Sabe por que afirmo isso? Porque a maioria, na esfera onde vive, com o alcance que tem, possui os próprios esquemas e conluios. É a nossa corrupçãozinha de cada dia. Da qual estamos perdoados, afinal, como reza o evangelho brasileiro, “todos fazem”.
Sinceramente, hoje, o Brasil é um excelente país do qual se ter saudade. Se possível, com olhos lacrimejantes, tomando um guaraná antártica exportado, ouvindo Clube da Esquina, mas longe, muito longe.
De delação em delação, o país se suja e se lava. Tudo, a jato. É muito esquisito imaginar que a nossa esperança de salvação está mais nos bandidos do que nas pessoas de bem. Bendito seja o ladrão sincero. É um país que não será salvo pela família, nem pela religião, nem sequer pela educação. A nossa chance mora nos aparelhos de celular e nos seus acessórios modernos de áudio e vídeo. Viva a tecnologia que pode nos salvar!
Vamos torcer pelo futuro, pelas gerações vindouras, pelos jovens. Nós erramos, perdemos a vez e o rumo. Fizemos tudo errado. A esperança está nos mais novos. Vamos ajudar estes garotos a se tornarem grandes, a se tornarem homens, e não garotinhos.
Porque por culpa nossa, minha, sua, vossa…
Porque não sabemos nem votar nem sequer nos portar como cidadãos, é infame, eu sei, mas, de Cabral a Cabral, a gente só se deu mal.