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Uma história de Amor

29 de agosto, 2016 - por Max Franco

 

Faz tempo que falam de mim, escrevem canções e livros com meu nome, mas não sei se realmente me conhecem. Eu sou o cara que todos celebram quando chega e que lamentam quando parte. Você sabe quem eu sou. Talvez você apenas não esteja ligando o nome à pessoa. Eu sou mais famoso do que o Cristiano Ronaldo e mais esperado do que férias de fim de ano.

O fato é que, desculpa a falta de modéstia, mas eu sou uma unanimidade, porque não há ser humano sobre a Terra que, conscientemente, diminua o meu nome ou que, na verdade, não tenha feito loucuras por mim (ou fará!).

Você me conhece. Se não pessoalmente, ao vivo, em cores, contudo ouviu falar de mim. Sim, eu sou famoso. Sucesso mais de público do que de crítica, mas famoso já há muito tempo e em todo o planeta.

Mesmo assim, você não saberia descrever a minha cor nem estatura. Não saberia definir com quem pareço ou se tenho sotaque. Você me reconhece, mas não saberia dizer como sou. Porque sou evidente e incógnito, óbvio e indescritível.

Para ele, porém, eu tenho sabor e cheiro. Durante anos a fio, ele acordou com o cheiro de café feito pelo Pai. Não precisava nem sequer que o Pai fosse lhe despertar no quarto cedinho da manhã. Ele ia, mas o rapaz já estava acordado. A xícara fumegante mudava de mão. Aquele seria o seu melhor bom dia e continuaria sendo muito tempo depois que aquela mão estivesse mais ali. Fosse apenas uma lembrança. Uma lembrança forte e ativa como era o seu café.

Os dois tomavam o seu café falando de futebol. Era a rotina. Uma rotina amarga e doce, intensa e rápida, exatamente, como o café que compartilhavam.  Eles não falavam de mim nem sequer se lembrariam do meu nome. Mas eu estava ali entre eles e continuei muito tempo depois. Quando não havia mais nem o Pai nem a rotina.

Hoje, ele visita as recordações com o Pai várias vezes ao dia. Mas, principalmente, quando percebe no ar o seu perfume inconfundível de café. Esse é o cheiro do seu Pai. Não o que ele tinha, mas o que ele deixou, o odor do que foi vivido, vívido e partilhado. E, nessas horas, quando não mais havia nem Pai nem mais manhãs como aquelas, mesmo assim, eu lá estarei cultivando – diariamente – as melhores lembranças e as maiores emoções.

Você sabe quem sou eu. Talvez só não esteja ligando o nome à pessoa.

Eu me chamo Amor, muito prazer!

Sou eu, o campeão de todos os sentimentos.

Ninguém, a não ser poeta, me define com propriedade. Porém, ninguém conhece as minhas feições nem o timbre da minha voz, mas, para ele, eu tinha algo que para sempre lhe seria reconhecível.

Era de café o cheiro do Amor.