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A humanidade seria um grande Experimento de Milgram?

03 de janeiro, 2019 - por Max Franco

As pessoas – na maioria das vezes, sem titubear – aplicavam grandes cargas de choques nas outras. A pergunta é por quê?

Em 1962, 40 homens entre 20 e 50 anos participaram voluntariamente de uma pesquisa na Universidade de Yale, nos EUA, sobre castigo como estratégia de aprendizagem. Em duplas, um dos participantes fazia o papel de”professor” e o outro atuava como como “aluno”. Cada vez que o “aluno” se equivocava, o “professor” lhe aplicava choques, que iniciavam aos 15 volts e iam até 450 volts.

Obviamente, na proporção em que os choques eram aplicados, o “aluno” manifestava desconforto, depois dor, pedia para sair da sala ou até se calava.  Inclusive, o “aluno” (que, na verdade, era um ator e não sofria choque algum!) declara no início que tem algum problema cardíaco. Portanto, a experiência poderia resultar até a morte do sujeito. Entretanto, como eram ordenados a dar sequência ao experimento, eles continuavam com os choques. Somente uma porcentagem menor deixou a sala sem concluir a atividade. A grande maioria – 65% – continuou até chegar ao choque máximo, para a surpresa do pesquisador Stanley Milgram (1933-1984). Ele queria provar que a resposta comum seria a desistência dos “professores”, mas ficou estupefato ao testemunhar uma prática ordinária de obediência a qualquer custo. Ele observou, inclusive, que nenhum voluntário chegou a ir até o “aluno” para verificar se ele estava bem.

A pesquisa de Milgram pode ser conhecida com detalhes no filme O Experimento de Milgram (2015), disponível na Netflix.  Com belas atuações de Peter Sarsgaard e Winona Ryder, o filme se propõe a promover uma reflexão sobre a questão. O Milgram de Sarsgaard rompe diversas vezes a 4a parede para expor as suas descobertas e, principalmente, o seu “susto” ao perceber que pessoas “comuns” não são tão propensas á empatia quando gostam de parecer e se declarar.

Ao assistir ao filme, fiquei me perguntando se a humanidade inteira não seria uma espécie de “Experimento de Milgram” de alguma raça mais poderosa. Talvez, esses deuses fiquem nos aplicando choques qui e ali para ver como reagimos. Um tsunami aqui, um terremoto ali. Um governo nesse país, uma guerra naquele… E continuam nos aplicando esses choques para observar a nossa capacidade de superação, de organização e, é claro, de empatia.

Acredito que eles devem estar tão ou mais surpresos do que Milgram sobre os resultados. Devem ser decepcionantes igualmente sobre a raça humana.