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Ninguém escapa desta vivo

02 de novembro, 2016 - por Max Franco

“A vida é um sopro e cedo ou tarde todo mundo vai se foder.”
É uma bela frase, mais uma para a coleção daquelas boas frases que – infelizmente – eu não cunhei.
Quem a arquitetou foi Niemeyer. (entendeu “arquitetou”?, não me chame de infame que ficou legal).

Os generais romanos, após campanhas vitoriosas em várias latitudes do planeta, eram esperados em Roma para entrarem em glória pelos portões da cidade, todos ovacionados pela população, recepcionados pessoalmente por César. No entanto, também traziam na sua biga um escravo que lhe sussurrava no ouvido: “Lembre-se que você vai morrer.”
Este é o fato inexorável da existência que é soprado diariamente nos nossos ouvidos : não importa quanto sejamos melhores ou piores, maiores ou menores, felizes ou desgraçados, vascaínos ou flamenguistas, todos, sem exceção, temos uma cova reservada no nosso futuro. Eis o elemento mais igualitário da vida, a morte.
A humanidade desde que se deu conta que era mortal fez de tudo para driblar o sinistro. Inventamos crenças e hospitais, templos e remédios, mandingas e tratamentos. Quando nada deu certo, criamos a vida eterna. Tudo para aplacar a dor de se saber finito. Afinal, não é inexistir que dói. O que dói é saber que, um dia, antes ou depois, cedo ou mais tarde, mas não tão tarde, seremos lembranças e depois nem isso.
Particularmente, eu tenho saudade do tempo em que acreditava no postmortem. Nada é mais reconfortante e consolador do que projetar esse amanhã dourado e pleno de felicidade que promete a eternidade.
Houve também um tempo em que desejava pregar a má nova, a vida deseterna, para todos os povos do planeta. Hoje, nem cogito essa tolice. Se, mesmo acreditando no prêmio para os bons e danação infinita para os maus, já está uma desgraça, imagina o caos ainda maior que vai virar se as pessoas virarem materialistas secularistas. Deixa acreditar que os maus terão um Haiti pela eternidade, e que os bons herdarão a Suíça,já que isso ainda serve como certo freio para alguns.
Sobre o meus mortos, tenho pouco a declarar. Tenho poucos na mente e no coração. Meu pai, por exemplo é um morto que carrego sempre comigo. Fico, por vezes, procurando-o no espelho. Acho que o encontro num certo sorriso triste ou num humor ácido que às vezes vem à tona.
Há também os mortos-vivos, ou vivos-mortos, não importa a ordem. Aqueles que, mesmo vivos, morreram. Todos mortos voluntariamente. Suicidados da minha convivência. Para estes não acendo velas, mas procuro – sem mágoas – enterrar bem fundo as suas existências. Não lhe desejo mal, não lhes desejo nada, senão quilômetros. Nada como uma boa distância de alguns para que a vida possa ser também reconfortante e consoladora.
Afinal, tudo antes da morte é vida.