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Dos presentes do presente (Ou tempus fugit)

29 de setembro, 2016 - por Max Franco

Ultimamente, tenho considerado o tempo um sujeito esquisito.

Primeiro, faz tempo, me disseram que a vida era curta e que tínhamos que aproveitá-la. Tudo bem,  acho mesmo que temos que aproveitar cada segundo, porém, nestes 46 longos anos nos quais não faço outra coisa senão viver, tenho pouca impressão de que ela seja assim tão curta. Lembro-me dos meus 14 anos e não acho que foi ontem.  Nem consigo entender que alguém com mais de 40 anos, espelho e memória consiga considerar ontem o que aconteceu na década de 80. A década de 80 – todos sabem – ocorreu faz séculos e talvez noutro planeta.

Para dizer a verdade, faz tanto tempo que mal consigo admitir que aquele garoto magrelo, ingênuo e desastrado era mesmo eu.

Não sou especialista em pretéritos, mas, para o bem e, principalmente, para o mal, eu tenho boa memória. Consigo me lembrar da escalação da Seleção brasileira de futebol de 82, das letras da Legião e, infelizmente, dos vexames. Isso mesmo, a minha memória é seletiva e tem a terrível predileção pelos momentos colecionados de vergonha e profundo equívoco, os quais não me faltaram na minha folha corrida.

São nestes momentos de intenso flashback que prefiro realmente considerar que ou faz tempo demasiado ou, melhor, nem sequer era eu.

O tempo é um cara peculiar.

Há quem diga que o tempo cura as feridas. Eu digo que não cura nada. Quando muito, ele faz com que você se acostume com a dor ou se distraia e acabe se esquecendo dela.

Não sei se o tempo é um cidadão que inspire confiança.

Não posso dizer confio muito no tempo.

Afinal, mais parece, muitas vezes, que há mais futuro no passado do que presentes no futuro. Ou que o futuro será uma sequência de passados requentados.

É que hoje, como o hoje nos aparece, anda difícil enxergar algum futuro no futuro.

Particularmente, não sei se o futuro será melhor do que qualquer passado, mas, hoje, só resta nos dedicarmos ao presente para que o amanhã possa ter algum futuro. Precisamos despreterizar esse futuro e inventá-lo com novas conjugações.

Particularmente, não sei se a vida é curta ou longa, intensa ou descafeinada. Sei apenas que é forte. A vida é forte e pesada. E o tempo? O tempo é urgente.

 

 

Tempus fugit. Sed fugit interea fugit irreparabile tempus (“Mas ele foge: irreversivelmente o tempo foge”).

Virgílio