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Quem se importa

23 de agosto, 2016 - por Max Franco

O que diz o dicionário online sobre o significado de Empatia:
s.f.
“Ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias.
Aptidão para se identificar com o outro, sentindo o que ele sente, desejando o que ele deseja, aprendendo da maneira como ele aprende…”

Tenho 46 anos.
Aos 16, eu achava que tinha mais de 30 amigos. Eu seria capaz de enumerá-los um a um. Aos 46, observo que os anos trouxeram menos cabelos, certezas e amizades.(A mais, experiência, filhos, dúvidas, quilos…). Amigos? Seria, também, capaz de enumerar um a um. É mais fácil. Bem mais fácil. Cabem numa mão. São poucos e fiéis. Nem sei por que insistem em sê-lo. Mas são, por alguma razão absurda.
Não culpo ninguém. Nem culpo o tempo. O tempo não tem a qualidade de fazer muita coisa. O tempo passa e só. As pessoas fazem suas escolhas por diversos motivos. Eu fiz as minhas cometendo algumas vezes acertos, todavia, acertando os alvos, meticulosamente, em tantos erros. Se me arrependo? Lógico. Queria uma maquininha linda do tempo para ter uma longa conversa com este sujeito que vos fala anos atrás. Seria um papo cheio de recomendações, exortações e talvez uma ou duas agressões físicas para deixar bem clara a minha opinião. Arrepender-se é aprender. Só aprende quem se arrepende.
O fato triste é que, seja por qual motivo, perdi tanta gente e tanta gente me perdeu. Não vou mentir que considero algumas perdas ganhos. Há gente boa de se extraviar no caminho. E alguns que deveria ter mantido a tiracolo. Quais? Principalmente os mais antigos. Aqueles amigos produzidos na época em que a palavra networking não existia. No tempo em que a gente era amigo apenas porque o sujeito lhe fazia rir ou porque se importava.
Essa é a coisa mais rara do mundo: que alguém se importe. Eu, inclusive, ousaria dizer que ninguém se importa realmente com ninguém. Somos todos – infalivelmente – egoístas, egocêntricos, umbiguistas. E só há um jeito de fugir dessa posição ególatra: a empatia. Em outras palavras: se ver no outro. Aí, você se importa. Não com o outro, mas com você no outro! Se o outro for você, então você liga para ele.
Esta é uma das competências mais difíceis da atualidade neste mundo individualista, materialista, hedonista, no qual vivemos. Eu vejo as pessoas. Cada um tem sobre si um redoma invisível, mas intransponível. A questão sempre é o tamanho desta redoma. Em algumas, só cabe uma pessoa: ele. O cara não tem mais sentidos para ninguém, apenas para a própria estatura. Há outras redomas maiores, nas quais cabe também a família (quando é bem pequena!). E por aí vai. Quanto maior o grau de sociabilidade, cidadania e solidariedade da pessoa, maior a redoma. Quando, porém, a redoma é enorme, a humanidade vai lá e crucifica o sujeito para que a lição fique bem explícita para todos. É que toleramos mais a mesquinhez do que a generosidade. Deve ser questão de autoestima. Eliminamos os melhores para que não nos sintamos tão mal ao nos compararmos com eles. Talvez por isso não topemos facilmente com Sócrates, Gandhi, Martim Luther King, Biko, Lennon…
A humanidade até suporta gente exagerada, desde que não seja exageradamente generosa. Compaixão é um ingrediente importante, mas só em doses homeopáticas. Nada de overdoses de bondade que pode saturar o caldo.
Estes foi um das lições que a Vida – essa sempre pródiga em ensinar – me presenteou. A única forma de se importar é se colocando no lugar. É sendo o outro. Aprendi tudo o que devia? Não. Nem perto. Aprendo, desaprendo, me esqueço, assimilo um pouco mais. Sou ciente dos limites e dos alcances da minha humanidade. Sei apenas que quero e que, tantas vezes, querer ajuda muito.
Ontem meu filho me deu uma aula desta disciplina. Tínhamos assistido ao Ben Hur e depois estávamos jantando. De súbito, ele olha para mim com o olhar mais sério do planeta e, no alto da sabedoria dos seus 9 anos, ele me diz: “Pai, sabe de uma coisa?A gente não devia fazer o bem aos outros só para ir para o céu ou para fugir do inferno. Isto é interesse. É troca. A gente devia ser bom porque o melhor é ser bom! O certo é fazer o bem!”
Que tapa na cara! Tão novo e tão sábio! E eu tão velho e burro.
Que essa sabedoria não se perca no caminho, meu filho! Não faltarão pedras nesta estrada e algumas lhes serão propositalmente atiradas. Mas que você nunca perca essa alma, essa bela, linda e reluzente alma.