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O próximo ano

25 de dezembro, 2018 - por Max Franco

Eis que lá vem o 2019 dobrando a esquina e você nem vai precisar acenar para embarcar nessa lotação. Uma lotação na concepção literal da palavra, afinal são mais de 7 bilhões de pessoas que entram com você no número 2019 que se aproxima.

O que isso significa?

A rigor, nada.

Anos não mudam nada, ou muito pouco. A vida não muda demasiado quando um dígito vira no calendário.  Você antes colocava um 8 agora colocará um 9. Nada deveras exigente, um número a mais.

As pessoas costumam se encher de esperanças quando dígitos mudam, como se o número a mais pudesse conclamar as melhores energias, trazer os mais agradáveis auspícios e anunciar presságios positivos para o futuro que se avizinha. Mas o fato é que o mundo e a vida e as pessoas e as intempéries e os acasos e as consequências dos nossos atos mais belos ou mais vis não estão nem aí para dia, mês ou ano do calendário. O tempo passa e as acontecências acontecem.

Veja só 2018. A copa que estava longe, muito longe, veio, ficou, fez umas gracinhas e passou. A eleição demorou, mas também chegou, aqueceu discussões, polemizou as redes sociais, destruiu algumas relações, porém também ficou no passado. É assim com o Tempo, senhor de todas as coisas acima e abaixo do sol. Ele é poderoso e não quer saber de nada. Não quer saber das suas vontades e esperanças, dos seus sonhos e desejos, da sua idade ou condição de saúde, dos seus entes queridos e desafetos, e – principalmente – de mim ou de você. A verdade é que o Tempo ou o Universo estão se fodendo para todos nós. Eles existem bilhões de anos antes de nós e existirão por mais bilhões de anos depois de nós.

O Universo, esse que dizem que conspira por nós quando desejamos demais alguma coisa, não chorará uma mísera lágrima quando desaparecermos. Na verdade, o Planeta Terra inteiro não inspiraria a tal lágrima caso evaporasse da Via Láctea. A Terra é um grão de poeira diante do tal Universo. Por isso, convenhamos, para que diabos o Universo perderia algum tempo conspirando a favor das suas metas de vendas, a sua conta bancária ridícula ou se a Joana volta ou não para você? O Universo tem mais com o que se ocupar.

Então, para que nos insuflamos de esperanças quando os fogos estalam e as pessoas se abraçam na noite de ano-novo?

Porque se com esperança está difícil, imagina sem.

Porque precisamos de argumentos, nem que sejam fiapos de motivação, para seguir adiante e colocar mais uma vez o pé diante do outro, erguer a cabeça, trincar os dentes e continuar acreditando em um amanhã ou em um ano melhor.

Para se munir de esperança, tudo vale a pena. Mesmo acreditar que a troca de um 8 por um 9 pode lhe trazer alguma vantagem.

Pois que venha 2019. Olho para você com desconfiança. Você não me aparenta bom estado de conservação. Você não me demonstra muita manutenção. Entrei em tantos bondes por toda a minha vida para me fiar bastante em você. Entrarei atento aos bolsos, estudando os passageiros, mas tentando não pisar os pés sem necessidade. Seja bem-vindo, 2019.

Vou procurar um lugar para me sentar…