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Encruzilhada

04 de agosto, 2017 - por Max Franco

Gente é bicho afeito a afetos.

Gente ama como respira. Odeia como respira. Despreza como respira. Pega afeto como se afeiçoa. Gente é indústria de paixões.

Como todo mundo, há coisas que admiro, coisas que evito e coisas que desprezo.
Estrada, esquinas, lugares, sempre os apreciei. Meu habitat é o Mundo. Minha casa, a paisagem. Sempre amei o mundo e seus recantos mais recônditos.
No entanto, sempre odiei encruzilhadas. Encruzilhada é troço feio até no nome. Encruzilhada deveria ser palavrão. “Você não passa de uma encruzilhada!” Encruzilhada é logradouro justo para despachos.
A desgraça da tal Encruzilhada é que ela por conceito e destino oferece mais destinos do que deveria. A premissa da Encruzilhada é a renúncia. Encruzilhada é um lugar que, antipaticamente, anuncia a perda de um lugar. Encruzilhada é o dilema concreto, prenunciado, direcionado. É o dilema com placas.
E encruzilhada é um logradouro tão desagradável que não nasceu para ser estada, mas para ser meramente transitório.
Pois é, justamente, onde – agora – me encontro estático, atônito-duvidoso, deparado pelas minhas escolhas, retido pelo pior de se ter opções, detido pela mais inconveniente das liberdades, incomodado pelo “Pare” antes dos caminhos nem sempre tão abertos e convidativos, mas, possíveis.
Talvez o maior peso da Liberdade seja se saber livre mesmo quando não se é tanto assim.
É que toda escolha morde e assopra. Toda escolha exige renúncias.
E, gostando disso ou não, encruzilhadas existem. Aparecem aqui e ali. Antes ou depois. E elas são impiedosas com aqueles que não respondem a sua eterna pergunta: “para onde”?

Por isso que encruzilhada não serve para endereço.
Na verdade, nunca ninguém acha alguém em encruzilhadas, meu amigo, porque encruzilhadas devoram os indecisos.