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A sutil arte de ligar o foda-se

02 de junho, 2018 - por Max Franco

Há momento nos quais é bom (e útil) se saber equivocado.

Eu sempre bati sem piedade nos livros de autoajuda, mas, por sorte, não sou aquele tipo de sujeito que critica sem nem sequer dar uma olhada nestas produções. Eu atiro pedra em Paulo Coelho? Atiro. Atiro porque já o li. Sobrevivi e cá estou para catar mais pedras. Eu malho os chamados “gurus da prosperidade”? Malho. Lógico! Eles são rasteiros e infames. Mas também já os li e ouvi. Doeu pra burro, mas aqui estou para depreciá-los com mais propriedade ainda. Eu questiono os livros de autoajuda faz décadas. Desde o tempo que não era moda afirmar que são para indivíduos com debilidades cognitivas e emocionais (está claro que isso se chama eufemismo! E se você não souber o que é eufemismo, é você quem é débil!), todavia, não o faço levianamente. Eu os leio, nem que seja só um pouco, mas leio.  Leio para confirmar meus preconceitos, obviamente.

Até hoje, nunca me decepcionei. Espero que sejam horrorosos e temerários e sempre são.

Até hoje.

Hoje, me surpreendi com este livro: A sutil arte de ligar o foda-se.

O livro já me sequestrou pelo título atraente. Título do caralho!

Depois, numa só sentada, devorei o conteúdo inteiro. É um livro – literalmente – arrasador. Ele, afinal, arrasa com todas aquelas palhaçadas  de “pensamento positivo”, de “se descobrir especial”, de “corrida para o sucesso” e todos aqueles mantras repetidos até o cansaço por quilômetros de páginas de livros de autoajuda e, claro, por mil palestrantes rasos e charlatães que sobram mundo afora.

Basta você conferir os títulos dos capítulos para já entender algo que o autor propõe:

  • O círculo vicioso infernal;
  • Felicidade é resolver problemas;
  • Sentimentos não são tudo que você pensa;
  • Um dia a casa cai;
  • Se mate;
  • Não existe caminho;
  • Como ser um pouco menos seguro de si. E por aí vai nessa mesma toada.

Há – também – duas frases que ele gosta muito de repetir e que eu adoro: “Você não é especial” e “Nem tente”, que é, por sinal, o epitáfio de Bukowsky. Em outras palavras, enfim um livro de autoajuda que só diz verdades sem cair nas obviedades imbecis.

Mark Manson segue na contramão da  grande maioria dos autores do gênero, que adoram enaltecer os (enormes, incomensuráveis) poderes do pensamento positivo.  O que ele defende é um comportamento adulto e maduro de resiliência e desapego em relação às  ocorrências da vida; uma atitude coerente, realista e humilde diante dos nossos limites e defeitos  (os quais adoramos negar).

Para isso, ele não dispensa “conselhos” como:

  •  Chega de perseguir o sucesso que lhe venderam como sucesso;
  •  Não tente pensar positivamente, quando sua vida estiver um horror;
  • Abandone a arrogância da autopiedade e de se achar extraordinário;
  • Sinta-se confortável com as suas fraquezas;
  • Enxergue o lado bom de estar no fundo do poço;
  • Escolha as batalhas que realmente valem a pena travar.

Pode parecer loucura, porém esses conselhos são bem fundamentados. O verdadeiro segredo – ele explica – não é fazer uma limonada com os limões que a vida nos providencia, mas lidar numa boa com a gastrite que vem depois. Manson sugere que paremos de fugir de nossos medos, incertezas e  falhas. Mas os enfrentemos com coragem e modéstia, caso não  superemos estes obstáculos. O “sucesso” não está na linha de chegada, mas no caminho. Caso você não concorde com essa frase, tudo bem, mas devo lhe advertir que Shakespeare diz o mesmo. (Você pode discutir com Manson, mas vai questionar o Will?)

Sobre “A sutil arte”, eu só tenho três sentimentos:

  • Inveja, porque não fui eu que o escrevi;
  • Admiração, porque é bem escrito pra caramba;
  • E pena, porque os que mais precisam não vão lê-lo. Não vão lê-lo por uma razão simples: o autor entrega nas mãos do leitor a responsabilidade de gerir a sua vida, sem soluções mágicas e instantâneas, sem promessas fáceis e sem anestesias portáteis.

Eu lhe recomendo “A sutil arte de ligar o foda-se” não para lhe ajudar a ser feliz. na verdade, estou me fodendo para esse papinho, mas para que você também saiba a hora de ligar o seu e saiba enfrentar a vida de forma mais consciente e madura.