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Leonardo, o gênio irrealizado

26 de outubro, 2016 - por Max Franco

Leonardo não se dizia Da Vinci. Ele nunca assinou Da Vinci. Assinava as suas obras apenas como “Leonardo” , porque era filho bastardo de Piero, um tabelião, e, possivelmente, de uma camponesa chamada Caterina. Vinci, na verdade, é uma pequena comuna encravada na bela Toscana.
Leonardo teria morado com a mãe durante alguns nos e nada indica que tenho recebido educação formal. Talvez tenha sido o fato de ter vivido nos campos por tanto tempo que tenha lhe aproximado tanto da natureza, a qual tanto admirava e observava, principalmente os pássaros.
Talvez tenha sido a morte da mãe que fez o garoto Leonardo ir para Florença, onde, enfim, o pai se dedicou a ampará-lo. Em Florença, o rapazote se tornou aprendiz de um artista local chamado Verrochio, até que, certo dia, o professor pediu ao jovem que fizesse um anjo na sua pintura “O batismo de Jesus”. Dizem que ao ver a perfeição do trabalho de Leonardo, o pintor teria declarado que nunca mais pintaria. Futuramente, Leonardo disse que só um aluno medíocre não supera seu mestre.
Há uma questão interessante sobre Leonardo. Enquanto Michelângelo era um workaholic crônico e um realizador incansável, Leonardo era mais um grande sonhador. Na verdade, era de natureza volúvel. Apaixonava-se por um projeto e abandonava outros com extrema facilidade. Era um homem da renascença com conhecimentos plurais e com curiosidade sobre diversas áreas. Ele, por exemplo, saiu de Florença e ficou a serviço do duque de Milão, Ludovico Sforza, inicialmente como músico e organizador de festas, as quais ficaram famosas em toda a Europa. Depois, ele também realizou projetos ligados Mecânica, Hidráulica, Ótica e, principalmente, à engenharia bélica. Não há, porém, grandes provas que os ousados projetos do gênio tenham saído do papel.
Consta que Leonardo, ao morrer, em Amboise, na região do Loire, na França, teria perdido perdão a Deus e à humanidade pela sua obra, ou talvez pela sua quase ausência de obras. Afinal, para uma vida tão longa, ainda mais para a época, Leonardo pintou pouco. Não são 30 pinturas. Enquanto Van Gogh, que só trabalhou por dez anos, pintou mais 800. Picasso produziu milhares. Leonardo também desejou fazer uma enorme estátua eqüestre em Milão. Os franceses invadiram e a obra ficou inconclusa. Leonardo também tinha um projeto em parceria com Maquiavel de aprofundamento do Rio Arno para otimizar a navegação para Florença. Outra obra que não viu se concretizar. Muitas das pinturas de Leonardo não foram concluídas, como, por exemplo, “A adoração dos magos”, “A batalha de Anghiari” e “A virgem e o menino Jesus com Sant’Ana”.
A vida de Leonardo, um dos maiores gênios que a humanidade já produziu , foi assim, repleta de irrealizações. Leonardo que previu o batiscafo, os aviões, o paraquedas, a bicicleta, os tanques de guerra… Leonardo que pintou a tela mais famosa do mundo, a Monalisa. Leonardo Da Vinci, homem que facilmente pode ser colocado nos mais altos altares da genialidade humana, ao lado de Michelângelo, Einsten, Beethoven, Mozart, Dante, Cervantes, Chaplin, talvez tenha vivido como um frustrado.
Fora estes fatos, ainda há muitas especulações sobre a vida e a obra de Leonardo:
– Aos 24 anos, ele foi acusado de praticar sodomia. Teria sido por isto que, logo depois, partiu de Florença e foi para Milão?
– Há realmente mensagens subliminares nas suas pinturas, principalmente, nas “Virgem das rochas”, “Última ceia” e até na própria “Monalisa”?
– Teria sido, de fato, Leonardo que “produziu” utilizando seus conhecimentos de ótica o famoso ícone da Igreja Católica “O Santo Sudário”?
Há ainda muito a se falar sobre Leonardo, mesmo depois de tantos séculos. Talvez por causa disso, ele seja uma das melhores sínteses do significado da palavra Mito, um mito adiante do seu tempo, um mito que sonhava.